30.9.09

Mais projectos

Módulos:
Descrição 1.Seleccionar, Ordenar, Singularizar 2. O ponto de vista físico 3. O ponto de vista afectivo 4. Descrição e personagens 5. Paisagens e ambientes
Narração 6. Da Narração 7. Os pontos de vista narrativos 7. Exposição, complicação, clímax, desfecho 8.Figurações, temas e funções 9. Ficcionalidade, realidade, diversidade

10 aulas + sessão final; total: 22h; preço 3.500$

Público alvo: público em geral, jornalistas, professores, assessores de imprensa, bloggers, profissionais de comunicação, letristas, amantes da palavra.

Horário: das 19h Às 21h, de segunda a sexta-feira, entre 5 e 17 Outubro

Formadora: Ana Araújo, formada em Português e Inglês pela Universidade do Minho, Mestrado em Esudos Portugueses pela Kings College London. Frequentou o curso de "A Novíssima Poesia Portuguesa e a Expressão Estética Contemporânea" com o professor Luís Carmelo, Instituto Camões. Reside na Praia, onde lecciona Língua e Literatura Portuguesa na UniCV

Para mais informações contacte: 2613370 | amigos.fac@gmail.com
Fundação Amílcar Cabral, Cidade da Praia

29.9.09

Nasceu projecto!

É um espaço para confluência de linguagens artísticas, onde se destacam o audiovisual e poesia, numa dinâmica de comunicação em rede entre pessoas, espaços virtuais e ideias.

Pretendemos proporcionar o intercâmbio e debate de ideias sobre temas propostos mensalmente aqui (bianda.blogspot.com)

Acontece todas as segundas-feiras na Fundação Amílcar Cabral, Cidade da Praia.

É uma co-produção entre a Bianda e a Fundação Amílcar Cabral, dirigida por César Schofield Cardoso

O projecto é aberto a TODOS. Participem, actuando, criticando e sugerindo. Contactem-nos pelo e-mail abriaspas@gmail.com


Tema de Outubro: GRADES
Dirigido por Hugo Miguel Coelho

5/10 - 18h30
Instalação-jam/ site specific sob o tema genérico “O Campo Tarrafal”, com artistas visuais/plásticos, músicos e todos que queiram participar

12/10 - 18h30
Video (de curta-duração) inicial seguido de conversa temática: o lugar do prisioneiro ideológico, e da prisão, na relação com a criação artistica.

19/10 - 18h30
Acção performativa sob o tema genérico “o Campo do Chão Bom”, com performers músicos e todos que queiram participar, apoiado no conceito “manta energética caótica orientada”.

26/10 - 18h30
Video (de curta-duração) inicial seguido de conversa temática: o tarrafal e o seu impacto actualmente, na relação com outros campos (ontem e hoje)


Hugo Miguel Coelho estudou fotografia na Suécia,, mais tarde teatro e literatura na Universidade de Évora e no Institut del Teatre em Barcelona. É bolseiro, para a iniciativa trinta e tal no campo da morte lenta do programa "Criar Lusofonia" do Centro Nacional de Cultura, com o apoio da Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas. Mais detalhes aqui (projecto30.blogspot.com)

28.9.09

Quando caem as árvores

É uma coisa inexplicável que sinto quando vejo uma árvore enorme caída como uma que vi há dias quando fez um pé de vento malcriado com chuva. Ver aquele pedação de ser vivo assim tombado na estrada, na horizontal que dá mais a dimensão do seu tamanho, e as suas ramagens e folhas desmaiadas pelo chão, tem configuração de cataclismo. Assim também sinto quando morrem grandes figuras como Mário Fonseca.

Conheci Mário Fonseca ainda tinha uma penugem no lugar de barba. Já me fazia cidadão nessa altura, com o fervor patriótico, político e cultural que nasceu comigo como parte da minha química, quando ouvi pela primeira vez Mário Fonseca intervindo numa palestra. O homem tinha uma grande postura física, voz firme, discurso fluído e ideias apaixonadas. Aquele homem naquele momento havia de marcar definitivamente o que sou hoje. Depois, nos últimos anos, comecei a vê-lo definhar e, embora mantivesse o mesmo espírito indomável, tremia-lhe o corpo e andava vacilante. Morreu. O que senti foi o estrondo de uma grande árvore tombando.

Morreu também Manuel de Novas. Quando as árvores caem é tempo de minutos de silêncio.

24.9.09

Odeio d'amar

De volta aos nossos queridos e amados jornais impressos. Eu os amo de coração porque amo a palavra e a imagem impressa embora já seja da geração da transição para a desmaterialização dos conteúdos e um confesso admirador (e fazedor) das novas tecnologias de informação. Voltando à vaca fria dizia, os nossos jornais.

João Dono continua a sua profecia que me lembra os doidos que andam pelas ruas a apregoar o fim do mundo. Usa as minhas palavras e só comete um insignificante deslize de não dizer quem é o “artista”. O Expresso das Ilhas achou tanta graça ao cartoon que eu tinha odiado que voltaram a publicá-lo. A Nação continua a tentar galgar o difícil caminho do reconhecimento, fazendo uma coisa que para mim é justificativa para o comprar todas as semanas: trazem artigos de cariz social e cultural mais para a superfície embora ainda sinta o cunho terrivelmente partidário no seu tom. A Semana continua relaxadamente e despreocupadamente de férias prolongadas, mas sabem o que mais? Quando voltar, continuará a ser o mais comprado dos jornais impressos. Como diz um camarada meu, quando se ama algo ou alguém, por mais que esse algo ou alguém nos martirize, não há nada que nos demova. Daí o ditado: o amor é cego…surdo, mudo e tetraplégico.

Por mim tudo podia simplesmente passar a digital, que não pode entrar de férias e nos dá a possibilidade de exprimir na hora o que nos vai na alma, mas enquanto a ubiquidade de acesso à Internet for só uma piadinha tola de José Maria Neves, os jornais impressos, como a rádio e televisão tradicionais, continuam sendo essenciais. Amo-os e odeio-os, como nos amores verdadeiros.

Lições de Hitchcock

Mais um terrivelmente bom filme de Hitchcock: Marnie. Expressionismo puro. Mais uma lição: quando os recursos são utilizados com peso e medida, o que isoladamente pareceria um exagero sem graça nenhuma torna-se um efeito essencial. Outra vez as grandes cenas de silêncio. Hoje em dia vejo Hitchcock com outros olhos e outros ensinamentos: estou a tentar aprender isso do silêncio: fazer uma cena que demora 3mn (que em cinema é uma eternidade) em silêncio e essa cena ser a que mais nos faz cravar as unhas no sofá, é quando dizemos: “esse camarada é um mestre!”.

21.9.09

Frases piri-piri

"Você nunca terá uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão e, naturalmente, a primeira impressão que as juventudes partidárias cabo-verdianas passam é de notória imprestabilidade ou meros trepadores do organigrama partidário."
Amilcar Tavares, in "Um propósito para os Jotas"

Substituiria "propósito" por "préstimo"

20.9.09

Uma cidade a afogar-se

“Praia é, pois, uma cidade desestruturada, portadora de um número significativo de bairros sem quaisquer condições de habitabilidade”

“É, enfim, o “deixa-andar” na sua dimensão mais dramática. Como, de resto, tem sido a administração da capital desde o dia em que este país se conheceu enquanto estado e nação.”

“Hoje, o resultado é este – uma cidade à beira de um colapso natural, onde nem as autoridades municipais e nem as governamentais parecem ter uma solução à altura da resolução dos problemas”

O título e os itálicos são do jornal “A Nação” de 17/9/2009, a propósito das cheias pela cidade. Sim senhor! Falaram bem. Pena que tal veemência de palavras não se verificou também na altura de Filú mas, prontos, ao menos dizem-no agora. Sim, Praia é uma cidade que vai colapsar a continuar a andar nesta toada. Tenho defendido que, no lugar do circular fantasma inaugurada com a maior das pompas, centenas de melhoramentos deviam ser feitos na cidade. Mas preferimos vangloriar as obras vistosas e no entanto viver na m…

19.9.09

Lições de Hitchcock

Finalmente vi o famoso filme de Hitchcock “Os Pássaros”, uma obra-prima de 1963.

Hitchcock está para o cinema como Miles Davis está para o jazz, pela dedicação à carreira, pelas inovações, pela experimentação, pelo ponto de vista, pelo uso da linguagem. Agrada-me particularmente em Hitchcock a câmara subjectiva, os travellings lentos e o uso do silêncio. Mas que silêncios tão bem escolhidos! Sequências inteiras em silêncio a ponto de levar o espectador a exasperação. E mais outra grande lição: pôr-se sempre no lugar do público tentando adivinhar a sua reacção e como vai fazer a leitura da cena.

Um mestre. Uma inspiração.

Thanks Guida

17.9.09

7 pecados mortais

Gostei da provocação do PSS, para enumerarmos os pecados mortais da Sociedade Civil. Por mim, ei-los: Vaidade; Inveja; Ira; Preguiça; Avareza; Gula; Luxúria. Ou seja, fiz copy/paste dos da igreja católica.

Passo a provocação aos leitores: enumeram os pecados capitais da nossa Sociedade Civil

Candidato a aprendiz de caricaturista

Quando vejo um cartoon no Expresso das Ilhas, em que estão Sócrates, trajado de rei, a incitar José Maria Neves, trajado de soldado do rei a aplicar chibatadas a um "pretinho" no pelourinho da Cidade Velha, a minha alma inunda-se de indignação! Será que o autor nunca pensou no significado pesado da escravatura? Será que ele não se sente um pouquinho só tocado pela história trágica dos seus antepassados para andar assim a brincar com termos como "pretinho" e com a escravatura. E onde ele foi arranjar a associação entre a política de hoje e a situação de crime humanitário dos séculos passados? E será que esse pasquim chamado de jornal não se dá ao respeito???

Candidato a aprendiz de profeta

Por falar em Deus e Diabo, João Dono resolveu lançar a sentença dos 7 pecados mortais ao Governo no jornal Expresso das Ilhas, 1 pecado mortal por semana. Após o 4º pecado mortal já não posso suportar essa escrita da metáfora ligeira. Fala em nome da juventude, dos operadores económicos, dos alunos e professores e por aí fora, como se de um padreco se tratasse, para nos iluminar a vida ante a conduta diabólica do Governo. Dono, por favor, menos, muito menos! Expresso, por favor, melhora.

Almas pesadas em toneladas

Sempre que trato Deus por “o gajo” a mamã se enfurece. Nasci ateu ou pensava que sim. Quando ainda morávamos numa casa com quintal, terraço, varanda e ainda havia pouca televisão, Albertina que veio de S.Antão para S.Vicente trabalhar como doméstica em nossa casa, tinha por hábito sentar-se com os meninos da vizinhança à noite a contar convicta que na sua ilha tinha bruxas que comiam meninos e que se transformavam em gatos para passar desapercebidas. Nasci também com a língua solta e da voz de menino contestava: náá, não é possível! Chateada com a minha descrença e por interromper-lhe a áurea de velha sábia, sentenciava-me: menino, trata de acreditar nessas coisas porque acontecem e é melhor te preparares!

Não conduzo a vida acreditando em Deus ou Diabo e no entanto vivo no meio de gente com a candura descrita em livros de anjos e gente carregada de fúria que correspondem às descrições de demónios. Há pessoas pesadas, a avaliar pela sofisticação maléfica das suas acções poderia dizer-se que não dormem um sono sossegado, que preocupações e frustrações as atormentam, que acumulam maldade e estão prontas para a descarregar em cima de qualquer um. Normalmente é no trabalho, o lugar em que um adulto passa a maior parte da sua vida, quando a tem é claro, que se revelam esses demónios humanos. Continuo descrente que algum padre, auto denominado funcionário de Deus, poderá exorcizar o mal de uma pessoa, mas acredito que certos ensinamentos do Oriente podem ajudar almas cansadas, como a noção de Karma que diz que acções do mal trazem mais mal e a noção de Darma que diz que o bem devolve o bem. Simples e acredito

15.9.09

Extremistas nós?

Paulo, precisamos de um Al Qaeda??...Definitivamente não. O mundo estará melhor sem Bin Laden e George Bush ou qualquer outro parvalhão que pensa em termos de matar para impor a sua lógica. Se acreditam tanto na morte porque não se matam?

Não, não precisamos de extremismo nenhum nem mesmo do extremismo que se exprime pela apatia total. Sim, a apatia face aos acontecimentos da vida é uma forma de extremismo que se denomina alienação. Para que o homem pudesse ter uma civilização foi/é necessário que se constituísse numa comunidade inteligente. Pois, e se dessa comunidade exigimos benefícios igualmente devemos participação. É vital não perder essa noção de comunidade, um fenómeno bem sensível entre nós nos dias de hoje em que desaparecem as pequenas vilas e as vizinhanças de soleira de porta, para no seu lugar gerar condomínios fechados (um conceito hediondo) e outras formas de estranhamento entre as pessoas.

Essa noção de que "isso não me diz respeito" cria um espaço aos messias satânicos, aos aproveitadores, aos sem escrúpulos, que aos poucos vai minando os nossos patrimónios (naturais, culturais, sociais) e quando as coisas atingem estatuto de crise, ficamos a achar que agora é preciso um Bin Laden para explodir isso tudo ou outro ditadorzinho com mão dura, o que implica matar gente ou restringir a condição humana das pessoas. NÃO! Somos mais inteligentes que isso. Por isso debatemos: não para derrubar o Primeiro-Ministro ou Ministro da Cultura (embora esse podia repensar o seu lugar) mas para exigir coerência, mudanças, soluções...melhoria de vida...para todos.

Textos fantásticos

Eu que gosto de fábulas, as inteligentes e não somente as estórias da carochinha, adorei este texto, como adorei um poema de Arménio Vieira do homem e do burro, em Mitografias.

14.9.09

Ditos

“Foi a crise que salvou Sócrates”, diz Ferreira Leite
in Público online

Se substituirmos "Sócrates" por "José Maria Neves" fica igualzinho. A propósito, os dois andam comcubinados de uns tempos pra cá; é só amores e troca de carícias aos seus egões. Mas, não vejo qual é o escândalo em o Presidente do PAICV/Primeiro-Ministro participar da convenção do PS português. Agora se o embaixador de CV em PT tava no assunto também e Zema terá prestado as declarações que ao que parece prestou, se está a incitar a comunidade CV/Lusa a votar em Sócrates, aí a coisa muda de figura. Como veio na imprensa, como são essas coisas avaliadas em termos de Relações Internacionais? Ou estarão os dois fofinhos plenamente convencidos que ganharão as eleições nos respectivos países não havendo por isso perigo que alguém (PSD) venha a vingar-se por esta mãozinha crioula? E tendo Ferreira Leite num passado recente ter-se referido a Cabo Verde de forma um pouco...deselegante. Juízo homens!

Criadores e destruidores

"Criação colectiva de Binga e Samira a partir de poemas de Amilcar Cabral, LARBAC é uma encenação em homenagem dos 85º aniversário do Amilcar Cabral. Estreia 12 de Setembro de 2009"
(divulgação FAC)

Estão de parabéns os promotores da ideia, foi um espectáculo. Enquanto o Palácio da Cultura está de pé vai tendo esses previlégios de receber eventos de elevado bom gosto como esse foi. Mas o Palácio, mais uma vez o Palácio que não se sabe se é um morto-vivo, ou se é um vivo em vias de morrer, causa-me indignação. É imperdoável que o seu bar continue fechado; há lá um tapete que gostaria de perguntar ao indíviduo que se chama de director se o punha em sua casa!; há imensos instrumentos doados pela China que vão ser devorados pelas traças; há espaços vagos a implorar por uma mente inteligente que os transforma em vida e lucro. O Palácio da Cultura Ildo Lobo é a materialização da estupidez cultural que vivemos nos dias presentes.

O Ministro da Cultura, mais uma vez o Ministro da Cultura, não se percebe como pretende dirigir um sector tão complexo e exigente se não comparece a nenhum dos melhores eventos da cidade! A sua ausência é tristemente notória. No oposto, a presença de Corsino Tolentino em toda a vida social desta cidade é um marco positivo e encorajador para mim. Inspira-me as suas palavras, sendo ele o único intelectual de alto calibre que ousa dizer: falhámos!

Mas muita dessa situação é culpa da Comunicação Social que por uma inércia que não consigo perceber não desempenha o seu papel de crítica e fazedor de opinião. Não aparecem, não participam e logo se restringem a anunciadores de eventos.

Apesar de tudo e de um certo indivíduo que resolveu usar o evento como palco para as suas patéticas performances, a noite decorreu agradável, com vinhos do Fogo a acompanhar um queijo Camambert a completar o quadro de bom gosto dos promotores. Obrigado.

11.9.09

Ao oitavo ano...

...as coisas começam a desandar. Lembro-me como se fosse hoje o oitavo ano da governação do MPD. O país andou pra trás: salários em atraso; crispação política; privatizações desreguladas; delapidação dos recursos financeiros do Estado; cooperação internacional ameaçando abandonar o país; escândalos económicos; ministrinhos tipo boys for the job; enfim...o país a desandar.

Convenhamos, este governo tem outro sentido de Estado e a única coisa que podem no dia de hoje vangloriar é de ter reequilibrado definitivamente as contas do Estado. Mas, a sintomática do esgotamento de soluções, a ansiedade provocada pela possibilidade de mudança política, as manobras pessoais com vista ao poder e uma certa guerrilha política, voltam a pôr o país em situações ridículas.

O mais grave dessa história muito previsível é que em 2011 as coisas podem voltar ao ponto de partida, com o MPD e os seus líderes reloaded, como se o passado não existisse. Ou então não se volta ao ponto de partida e continua este governo com os seus pedregulhos que custam uma fortuna ao Estado, não coisam e não saem de cima, sendo os ministérios da Cultura e da Juventude e Desportos, por exemplo, casos já de calcificação política.

Novos tempos? Novos desafios?

Lá está o outdoor de José Maria Neves com um (menos brilhante) sorriso anunciando: NOVOS TEMPOS, NOVOS DESAFIOS. A política tem essa forma estranha de confundir o discurso: desculpa Senhor Primeiro Ministro, mas a Vossa Excelência não tem novos desafios e nem tem tempo para inventar novos desafios; os seus desafios já vão com quase uma década (ou seja toda a sua Governação) ou seja são velhinhos: o desafio da reforma da Administração Pública, o mais abominável monstro do nosso Estado, continua por vencer; o desafio dos TACV vai fracassar; o desafio das Energias já fracassou; o desafio das Infraestruturas, uma das suas maiores bandeiras de sucesso, precisa ser re-alinhado com a economia real; o desafio das Telecomunicações continua em banho-maria (ou não se pergunta porque não temos ainda um Comércio Electrónico, coisa corriqueira já em muitas partes do mundo?); o desafio da Educação agora é a qualidade em vez de exibir números; o desafio da Cultura nem se pôs; o desafio da Juventude para mim é um falso desafio; o desafio das Agriculturas e Pescas continuam em idade de artesanato; o desafio da Economia é o desemprego a 1 dígito que nem nos seus sonhos vai atingir...para além de ainda ter que evitar que o tecido do seu próprio Partido se rompa pelas costura. Mude o slogan para: "novos tempos, os mesmos irritantes desafios, os mesmos velhos actores"

10.9.09

Brincando aos países

Não considero que esconder a realidade e enfatizar até ao ridículo os elogios que recebemos seja uma boa estratégia motivacional. É claro que me regozijo com os louvores, mas a luta por um país digno ainda é longa e, na minha óptica, só se consegue vencê-la encarando de frente as batalhas.

Isto veio a propósito deste post do Amilcar Tavares, um guerreiro.

C'est pas possible!

Gritou indignado um amigo meu senegalês ao ver para a foto da manchete do Expresso das Ilhas de 2 de Setembro de 2009 que mostra um senegalês (não vem escrito que é senegalês mas o meu amigo senegalês jurou ser um senegalês porque um senegalês reconhece outro senegalês a quilómetros de distância como uma caboverdiano reconhece outro caboverdiano em toda a parte do mundo) e um grande título que diz: "ASSÉDIO E INSEGURANÇA ASSOMBRAM TURISMO". O artigo referia-se à ilha do Sal.

Meu povo que amo tem por vezes essa capacidade de se fazer de burro. Por mais de uma década o turismo derivou num mar sem porto e sem rotas. Por tempo demais não se articulou oportunidades e políticas. Praticamos um turismo do deixa fazer o que o estúpido do investidor bem quiser e praticar os preços que achar devido e invadir as praias com monstros de betão como bem entender sem qualquer noção de limite. As autoridades locais e nacionais, cegos pela sua luta cíclica de assalto ao poder esqueceram que tinham um país a gerir. Veio a crise, que é a versão capitalista de purgatório, e demonstrou que construímos castelos de areia que se desabam com um só golpe e agora querem passar essa ideia que a culpa é dos chatos dos vendedores da costa africana!

Como dizia Arménio Vieira (nas suas fábulas quase realistas), um burro-burro é só burro; um homem-burro nem burro é, por respeito ao burro. Quanto mais quando sabemos que de burro não temos nada; é mais para chico-esperto que é uma espécie de carapau-de-corrida que está abaixo desse homem-burro que nem chega a ser um autêntico burro.

A Guerra, cap.1

"O terrorismo político que o PAICV praticou nas campanhas em Santa Catarina, que culminou com a tentativa de assassinato de Francisco Fernandes Tavares nas vésperas das eleições em Mato Gegé continua e, por isso, não obstante a sua boa fé, o Presidente teve dotar-se de uma equipe mínima de sua confiança, para a sua segurança e funcionamento da Câmara Municipal, pois o pelotão da frente pode desandar em elação ao rumo traçado pelo líder para que a equipa possa funcionar"
Francisco Tavares (Presidente da Câmara Municipal de S.Catarina), in Expresso das Ilhas, 2/9/2009

Mato Gegé, referido no texto, na verdade trata-se de um perigoso palco de guerra, também conhecido por Mato Uakagá. O terrorismo que se fala, na verdade foram actos bárbaros perpetrados por dois terríveis mercenários conhecidos por Aka Psuda e Fu Djidu, que inventaram e aprimoraram técnicas de tortura como a "gozga" e a "txuputidura" também conhecida em outros matos deste perigoso país como "pnik".


8.9.09

Rainha da Cocodada Preta

A tal Rainha do Lar tirou o famigerado post da polémica gastronómica. Assim tenho de demonstrar a minha desilusão. Gosto de pessoas convictas que quando assumem uma posição mantêm até ao fim. Eu tinha achado que ela foi infeliz nas palavras, mas a sua observação era pertinente. Precisamos sim cuidar da imagem que oferecemos para fora.
"Os músicos Vasco Martins – de Cabo Verde, e Mário Lajinha – de Portugal, actuam no próximo mês de Outubro no auditório do Centro Cultural Português na Cidade da Praia, em concertos separados." (RTC)

Há notícias que deixam uma pessoa cheia de inspiração. Dois monstrinhos sagrados juntos!!..Quero ver e ouvir.

7.9.09

Palavras fantásticas

Adoro as palavras. Acho que a palavra "putativo" é uma palavra fantástica que faz a língua estalar duas vezes nos dentes para a pronunciar, que é a mesma coisa que fazemos com a boca quando tomamos um café mesmo bom e estalamos uma ou duas vezes a língua nos dentes como que a ecoar o gosto. Juro que ainda vou escrever um texto cheio de "putativos" só para a poder saborear como um café.

Aqui todos malham

Uma brasileira andou dedilhando algumas impressões sobre a comida que é servida na cidade da Praia o que incomodou muita gente. É certa que a senhora apressou-se nas ilações tais como "não doura-se cebola e alho, eles são cozidos junto com todos os demais ingredientes do prato" mas depois de nos passar a irritação de ver o nosso nome criticado não pelas melhores razões, vamos fazer um exercício de racionalidade e vamos perguntar: ela andou muito longe da verdade?

Em Cabo Verde come-se bem, diverte-se bem, vive-se bem, mas só para quem conhece e chega a traçar o seu próprio roteiro. De resto, para os visitantes, passamos uma péssima imagem e mesmo nós próprios dizemos muitas vezes: come-se mal na cidade da Praia! Exercício: tendo dinheiro, experimentem almoçar todos os Sábados e Domingos na cidade da Praia e verão se em duas semanas não estarão terrivelmente irritados.

Não vale a pena "chingar" a brasileira. No mundo de hoje da globalização e do tempo limitado, um país que se preze deve impressionar desde o aeroporto a todo o resto. Neste sentido, acho que a brasileira foi até "bacaninha", como ela própria disse, porque na verdade somos horríveis de turismo. Aceitemos os factos.

4.9.09

Estado de Emergência de Energia

Mas...ninguém vem a público explicar o que se passa com a electricidade neste país?! O QUE SE PASSA?? Porque passamos 24h sem electricidade? O que está acontecendo Sr.Director-Geral da Electra? Que se passa Sra Ministra da Economia? Então passamos pelas mais absurdas situações e ninguém treme no Governo, Sr Primeiro-Ministro??...Não temos ao menos o direito à explicação? Ou isso já passou toda a explicação lógica? E a Oposição no meio disso tudo? E as organizações da sociedade civil? Quanto tempo temos que aturar mais esta absurdo-situação?

O discurso de posse da Ministra da Economia centrou-se na questão da energia e do emprego. Lembro-me vivamente das suas palavras a demonstrar uma grande confiança na resolução definitiva e consistente do problema da energia a breve trecho. Quanto ao emprego até lhe dou o benefício da tolerância por causa da crise. Mas esta situação da energia!!...Não faz sentido nenhum e não nos enganemos: não vai se resolver a breve trecho a não ser que se declare Estado de Emergência e se tome medidas sérias. Em política normal uma cabeça já tinha rolado diante de tais catastróficos-factos.

3.9.09

Mosquito Rave Party

Os mosquitos descobriram que agora invariavelmente falta a luz de madrugada lá em casa. Ontem fizeram uma rave party contando ainda com a minha participação na percursão e nos coros. Descobrindo os sons do meu corpo. Cara: taz; coxa: tum; joelho: toc. Coros: porra!..gaita!...porra! Os mosquitos e o seu invariável som: bzzzz, bzzzz.

Os mosquitos do meu bairro montaram uma maternidade num descampado que fica mesmo ao lado do meu prédio que está atolado de entulhos e plantas e com as chuvas tem as condições ideias para a procriação de várias espécies animais em que se destacam os mosquitos reproduzindo-se aos quilos. Em reconhecimento às boas condições de vida, a associação dos mosquitos da Praia estão organizando a próxima condecoração às autoridades locais e nacionais, louvando a falta de luz e as águas estagnadas. Poderá até uma figura receber um honoris causa.

Tal qual um recinto após um festança ao amanhecer o meu corpo mostrava como tinha sido divertida a noite.

2.9.09

As (opções) políticas

Preso por ter cão e preso por não ter.

Se é facto que essa questão da electricidade beira o surreal, o TACV continua a demonstrar como não se faz uma transportadora, a política das telecomunicações vai impedindo o país de entrar na economia digital, passamos em cima de questões ambientais de forma deselegante, ignoramos os benefícios de uma adequada política cultural, o desemprego não vai melhorar, a administração pública vai continuar monstruosa e a necessitar de chupar-nos o dinheirinho todo para se manter, o facto é que ninguem garante que isso tudo se resolva com uma mudança política em 2011, por um facto muito simples: grandes males que estamos a viver hoje foram plantados na viragem da dita democracia. E é exactamente essa mesma turma que está no horizonte para formar Governo, agravado pelo facto que estarão mais velhos e carregados de ressentimentos políticos. Caso para dizer, a minha geração (que em 2011 serão quarentões ou quase), vai passar ao lado. A minha geração não produziu líderes políticos.

As (más) políticas

A estrada circular da Praia é uma estrondosa obra, talvez só ultrapassada pela estrada em S.Antão que faz túnel e tudo (como se chama?). Ninguém duvida da grandiosidade dessa obra, mas terá sido uma boa política?

Política, em outras definições, é a melhor gestão possível dos recursos públicos. Temos um grande circular em que passa um carro de vez quando e por outro lado temos uma cidade que quando chove torna o trânsito automóvel impossível. Temos umas quantas zonas da cidade sem uma estrada de acesso digna do nome. O próprio palácio do Governo torna-se um lago devido a um sistema ineficaz de escoamento de águas. É como esses indivíduos que compram grandes e vistosos carros mas moram em casas miseráveis. Andamos a vangloriar de grandes obras públicas, mas vivemos em condições insuportáveis.

Lembro-me da discussão da boa Governação e do bom Governo. A primeira existe (também chamada de Governabilidade) porque somos um país democrático, com instituições do Estado a funcionar (uns mal como a Justiça, mas a funcionar), temos paz e cumprimos os outros requisitos todos para merecer essa classificação. Mas, um país que falha uma das suas políticas essenciais, a política energética, tem um bom Governo?

A minha noite foi um horror por falta de electricidade que me possibilitasse uma ventoinha e um repelente de mosquitos.

1.9.09

"A novela é o ópio do povo caboverdiano"
Inspirado num comentário aqui de Amilcar Tavares

Hipnóticos

Tomava o café vendo para parte nenhuma na rua tentando esvaziar-me sem pensar no cochichar e demais ruídos do bar quando tudo parou. Tudo ficou quieto. A balconista ficou com o braço suspenso a entregar o troco ao cliente que ficou com o braço suspenso a receber o troco da balconista. Outros pararam de levar o pão à boca e outros suspenderam o tilintar da colher na chávena. A criança parou de desenhar e a mãe parou de a ralhar. Olhei para a direcção que todos olhavam. Aconteceu algo trágico na novela.

Not proud to be

Ingénuo, dizem-me. Olha que é assim em toda a parte do mundo. A política é assim que se faz. Todos os países do mundo têm a corrupção e os esquemas que caracterizam a política. Em África estamos muito melhores. Blá blá blá.

Sim, é verdade que aqui não teremos um paraíso da honestidade e nem seremos diferentes dos restantes miseráveis seres humanos do mundo. Mas também em todo o lado com o mínimo de civilidade, há vozes que se erguem, espíritos que não se domam, há acções que parecem inócuas mas que marcam a diferença e, fundamentalmente, há cidadãos que não se deixam enfiar o dedo em qualquer buraco. Em determinados países, sai uma pedra da calçada e imediatamente cria-se uma associação dos possíveis lesados por entorse de pé. Aqui falta um dia de luz e ninguém pia; vem uma factura monstruosa e ninguém pia; os deputados trabalham quando bem lhes dão na gana e ninguém pia; a revisão constitucional encontra-se bloqueada por capricho desses mesmos parasitas e tá tudo OK; criminosos vão se soltando da cadeia por inoperância da Justiça e tá tudo cool. Quem está para se chatear?!

Querem que eu ame essa maneira de adormecer ou fingir-se de bem quando há problemas reais que pedem que tirem os vossas bundonas de casa?...No meu bairro chamado de chique facto que ainda não descortinei porquê, é um espectáculo de sacos de lixo pendurados nas varandas porque o pessoal não tem paciência para aguardar até que passe o carro da recolha. Fazem a festa os gatos e os cães mas pelo menos já vou sabendo aonde moram os porcos. Não senhor. Não amo a vossa imitação de chique. E nem esse fingimento de país.